Enchentes aumentam o custo da PCH Vale do Leite em 18,06% devido à elevação das cotas de cheia
- Milton Wells
- há 14 minutos
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A Cooperativa Regional de Desenvolvimento Teutônia (Certel), após vender energia no leilão A-5, de 22 de agosto de 2025, iniciou de imediato as obras da PCH Vale do Leite, no rio Forqueta, entre Pouso Novo e Coqueiro Baixo.
Segundo o presidente da Certel, Erineo José Hennemann, seu custo subiu de cerca de R$ 72 milhões para R$ 85 milhões, devido à necessidade de reforçar estruturalmente a obra, dado os impactos das inundações do ano passado, entre outros fatores.
Com autorização da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) já concedida, a expectativa da Certel é de que a usina, com potência instalada de 6,4 MW, entre em operação em fevereiro de 2027, bem antes do prazo contratual de entrega de energia a partir de 2030.
Hennemann destacou que o maior desafio e o principal motivo para o aumento no investimento foi a elevação das cotas de cheia do projeto. "Quando aumentamos as cotas de cheias, temos de aumentar a robustez da barragem, o que implica mais ferro e cimento.
A barragem, de 150 metros de comprimento, terá mais peso de concreto para se defender com segurança em uma possível enchente nos níveis que tivemos", explicou o presidente.
Além da barragem, a casa de máquinas também passou por uma revisão de projeto. A obra civil será executada pela Fraga Construtora e os contratos para equipamentos (turbina e gerador) e conexão já estão fechados. A Hidroenergia será a empresa fornecedora.

Hennemann ressaltou que o projeto é um exemplo de intercooperação, ou seja, é integralmente financiado por cooperativas do Sicredi (quatro agências da região de atuação da Certel) e recursos próprios, seguindo o modelo cooperativo da usina.
A PCH Vale do Leite será a terceira da Certel no rio Forqueta, onde operam a PCH Rastro de Auto, que também está aumentando o peso da barragem, e a PCH Salto Forqueta. Esta última, que sofreu danos com as enchentes, já está recuperada e gerando energia continuamente desde maio, com a casa de máquinas selada em um "modelo de bunker", o que garante maior resistência a futuros eventos climáticos. A reconstrução da PCH Salto Forqueta custou cerca de R$ 40 milhões e foi financiada por meio de recursos do governo federal e do Sicredi.
Na área de preservação, o projeto da PCH Vale do Leite engloba medidas de mitigação ambiental que resultarão no segundo maior corredor ecológico do estado, nas margens do rio Forqueta, com 50 km de faixa de preservação, a maioria em conservação e manutenção, mas também com plantio. A área de alagamento da usina será de 0,49 km².
PCH Salto Forqueta
Além de encarar os desafios na PCH Vale do Leite, a Cooperativa celebra a recuperação da PCH Salto Forqueta, também no rio Forqueta. A usina, inaugurada em 2002 e gravemente danificada pelas enchentes de 2024, voltou a operar plenamente em maio de 2025, após um ano sem gerar energia.
"Contamos com a ajuda climática, de pessoas dedicadas e pouca chuva no período de reconstrução, e isso favoreceu a construção nesse prazo acelerado", relata Hennemann. Ele relatou que foi feita uma "engenharia de prazo e utilização", na qual equipamentos inicialmente comprados para a Vale do Leite foram deslocados e utilizados na recuperação da Salto Forqueta. A reconstrução, com investimentos de aproximadamente R$ 40 milhões, foi viabilizada por meio de recursos do governo federal, do Sicredi e do BRDE.
Para garantir a segurança futura, a Certel adotou um "modelo de bunker" para a casa de máquinas da Salto Forqueta, selando a estrutura de comando e garantindo maior proteção contra futuros eventos climáticos. A usina está gerando continuamente, recuperando o período de paralisação.

PCH Salto Forqueta adotou modelo bunker para a casa de máquinas
UHE Bom Retiro: investimento inflacionado em R$ 100 milhões
O próximo grande projeto da Certel, a UHE Bom Retiro, de 35,18 MW, sofreu um impacto ainda maior com as novas cotas de cheia. O presidente Erineo Hennemann informou que somente o aumento das cotas elevou o investimento em R$ 100 milhões.
"Não existe forma de fazer um projeto sem que o custo do investimento retorne dentro dos prazos. Precisamos de uma negociação porque não existe forma de fazer sem isso", afirmou o presidente. Diante deste cenário, a Cooperativa foi obrigada a renegociar os prazos de execução.
Atualmente, a UHE Bom Retiro está em fase de revisão de todos os orçamentos, um processo que deve levar cerca de um ano e meio, antes de ser preparada para o próximo leilão de energia. Apesar do desafio financeiro, a visão de futuro da Certel é de que a usina tem um horizonte de geração de energia de 150 anos. "Vai ser uma legítima usina cooperativa, financiada pelos Sicredi’s", reforçou Hennemann.
O presidente da Certel manifestou ainda a busca por alternativas de fomento, e destacou a criação de uma agência de fomento pelo governo do Paraná para PCHs, como uma possível solução para o setor diante dos custos crescentes.
Foco na geração e no mercado livre
O plano estratégico da Certel é focar cada vez mais em geração de energia. Além dos projetos no rio Forqueta e da UHE Bom Retiro, a Cooperativa possui projetos de energia solar e um projeto eólico de 40 MW entre Teutônia, Westfália e Imigrante, com a conexão próxima de ser finalizada.
No cenário de abertura do mercado de energia, a Certel aposta na qualidade de seu serviço e no atendimento humanizado. "Temos uma tarifa menor que uma concessionária e atendimento mais humano e rápido. Esperamos que o futuro consumidor livre dê preferência para essas garantias que a Certel oferece", disse Hennemann.
Para acompanhar o movimento do mercado, a Certel criou a "Certel Serviços", uma empresa dedicada a oferecer serviços para a iniciativa privada e outras empresas de energia. A cooperativa, que atende 80 mil consumidores, busca manter preços competitivos e manter-se preparada para aumentar seus contratos no mercado livre.
Principais impactos das inundações na PCH Salto Forqueta
Destruição da Casa de Máquinas: O "coração operacional" da PCH foi praticamente destruído, resultando na perda total da estrutura civil e dos sistemas vitais, como automação, comunicação, medição de fronteira e proteção. Turbinas e geradores, embora robustos, foram severamente afetados por água e entulhos.
Dano estrutural na barragem: A barragem sofreu o desmoronamento de sua ombreira direita, uma extremidade de apoio, durante o pico da cheia. Esse colapso levou a Cooperativa a acionar a usina em nível de emergência, por risco de ruptura. A perda da ombreira esvaziou o reservatório por caminho alternativo, paralisando a geração.
Logística: O acesso à PCH foi totalmente bloqueado (queda de barreiras e pontes), exigindo que o primeiro reconhecimento fosse feito a pé em uma trilha de horas. Milhares de toneladas de entulho e lama cobriram a área, dificultando o início imediato dos trabalhos.








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