A saga da família Faller e os 25 anos da CGH Mafrás: pioneirismo na geração independente de energia no Sul do Brasil
- Milton Wells
- há 49 minutos
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Santa Catarina, com sua geografia privilegiada e abundância de rios, foi palco dos primeiros aproveitamentos hídricos voltados ao atendimento de demandas locais, especialmente de indústrias e núcleos urbanos. Usinas como a do Piraí (Joinville, 1908) e a de Maruim (São José, 1910) marcaram o início da geração descentralizada de energia no estado, ainda que não classificadas como Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs).
Esses empreendimentos pioneiros foram impulsionados por empresários locais, prefeituras e pequenos empreendedores que buscavam autossuficiência energética em sistemas isolados — realidade que começou a mudar com a integração dos sistemas a partir da década de 1980.
Entre essas iniciativas de destaque está a CGH Mafrás, localizada em Ibirama, que entrou para a história como a primeira usina da Região Sul a operar sob o modelo de Produtor Independente de Energia (PIE). Fundada por Willy Faller, a CGH iniciou suas atividades em 1999 e deu origem a um grupo que hoje reúne sete CGHs, somando 17,5 MW de potência instalada.

Raízes familiares e espírito empreendedor
A trajetória da família Faller no Brasil começa em 1924, com a chegada de Fritz Karl Robert Faller, então com 19 anos, à localidade de Braço do Trombudo, em Santa Catarina. Após trabalhar como funcionário em empresas da região, Fritz alugou uma pequena serraria e, em 1933, fundou oficialmente a empresa Fritz Faller.
Para suprir a demanda energética da serraria, Fritz construiu uma roda d’água nos anos 1930. Com a expansão dos negócios, uma segunda serraria e uma fecularia de mandioca foram criadas, exigindo maior geração de energia — o que levou à instalação de uma turbina alimentada por um canal escavado manualmente na década de 1940.
Após o falecimento precoce de Fritz, Willy Faller assumiu a gestão e ampliou a geração própria com locomóvel a vapor e motores a diesel. A chegada da rede elétrica na década de 1960 acelerou o desenvolvimento da empresa.
Nos anos seguintes, a família diversificou seus negócios, entrando no setor de papel e construindo uma nova usina para atender à demanda energética da produção. Em 1982, surgiu a Mafrás Indústria e Comércio de Madeiras, fundada por Willy e seus três filhos, com foco na industrialização de madeira e produção de óleo de sassafrás.

O nascimento da CGH Mafrás
Em 1989, a Mafrás adquiriu um terreno em Ibirama com uma queda d’água ideal para geração de energia, visando inicialmente a fabricação de papel branco. No entanto, o projeto foi adiado devido à recessão provocada pelo Plano Collor.
Com a reestruturação do setor elétrico em 1997 e a criação da figura do Produtor Independente de Energia, Willy Faller e seus filhos Werner e Ellen decidiram implantar ao menos a usina de geração, vislumbrando um novo mercado.
Apesar de estar pronta para operar em 1999, a CGH Mafrás só entrou em funcionamento em 2000, devido à ausência de regulamentação específica para pequenos produtores. “A tramitação junto à Aneel e à distribuidora CELESC foi bastante desafiadora, pois o mercado de energia vivia uma nova fase”, relembra Daniel Faller, neto de Willy.
Werner Faller destaca que por ser um negócio pioneiro, que ninguém tinha um conhecimento prático a empresa optou por implantar a usina de forma escalonada, iniciando com 1 MW, ampliando sua capacidade com mais 1 MW em 2002 e outros 2 MW em 2007, totalizando 4 MW.
Expansão e legado
A geração de energia tornou-se o principal foco de expansão da Mafrás, “Investimos sistematicamente no setor de energia por acreditar que nossos projetos são eficientes e de baixo impacto ambiental, gerando valor para empresa a longo prazo”, afirma André Faller, Diretor Presidente da Mafrás.
Hoje, sob gestão da quarta geração da família Faller, o grupo opera sete CGHs que comercializam energia nos mercados livre, regulado e de reserva:
CGH Mafrás (2000) – 4 MW – Rio Itajaí do Norte, Ibirama/SC
CGH Faxinal dos Guedes (2007) – 4 MW – Rio Chapecozinho, Faxinal dos Guedes/SC
CGH Dona Maria Piana (2010) – 1 MW – Rio Tega, Flores da Cunha/RS
CGH Willy Faller (2017) – 1 MW – Rio Lajeado dos Portões, Anita Garibaldi/SC
CGH Santa Paulina (2022) – 3,3 MW – Rio Alto Braço, Leoberto Leal/SC
CGH Figueira do Tigre (2023) – 2,2 MW – Rio Alto Braço, Leoberto Leal/SC
CGH Garcia de Angelina (2025) – 2,0 MW – Rio Garcia, Angelina/SC








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