PCHs e o desafio da sustentabilidade: como a engenharia se adaptou para viabilizar projetos
- Milton Wells
- 9 de set.
- 3 min de leitura

Daniel Faller
As Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) têm se consolidado como uma fonte de energia renovável importante, mas sua evolução não foi linear. Daniel Faller, especialista no setor, destaca que a viabilidade desses projetos passou por uma transformação significativa, impulsionada por dois fatores principais: a melhoria de custos e a crescente pressão socioambiental.
Inicialmente, o foco da engenharia de PCHs era puramente a otimização de projetos para garantir a competitividade. Com as tarifas de energia represadas e o baixo volume de contratos, as empresas foram forçadas a buscar soluções mais eficientes, principalmente na tecnologia das turbinas. Essa pressão do mercado foi o estopim para uma abordagem mais criteriosa, onde cada detalhe – da escolha do arranjo à seleção de equipamentos – passou a ser avaliado com mais rigor para manter os projetos de pé.
Mentalidade
No entanto, a mudança mais profunda não foi técnica, mas sim de mentalidade. A partir dos anos 90, e especialmente nos últimos 15 anos, a preocupação com os impactos ambientais se tornou um fator decisivo. Como resultado, a busca pela viabilidade dos projetos se expandiu para além da esfera econômica. "Passou-se a considerar mais os parâmetros ambientais do que os parâmetros energéticos", explica Faller. A dinâmica de desenvolvimento de toda a cadeia, desde a prospecção até a operação, passou a ser moldada pelas condicionantes ambientais.
A crescente pressão socioambiental acabou restringindo o potencial hidrelétrico a ser aproveitado. Esse obstáculo, no entanto, foi o motor de uma nova onda de inovação. A engenharia, antes focada em extrair o máximo de energia, teve de se adaptar e buscar o "aproveitamento possível" diante das restrições.
"Essa pressão trouxe uma pressão de melhora na eficiência", afirma Faller. As empresas de engenharia foram desafiadas a utilizar as melhores tecnologias para desenvolver o potencial restante. Isso incluiu aproveitar a chamada "vazão sanitária" – o volume mínimo de água que deve ser mantido no rio para preservar o ecossistema – para gerar energia. A eficiência dos equipamentos e dos projetos como um todo se tornou crucial para buscar um ganho marginal de energia e, assim, melhorar o resultado final.
Automação
A evolução tecnológica nas PCHs também se manifestou na automação e no monitoramento. A partir dos anos 2000, as usinas já começaram a ser construídas com sistemas automatizados, visando uma operação mais eficiente e de menor custo, com a redução do número de operadores.
Mais recentemente, a automação evoluiu para a operação remota, centralizada em centros de controle. Agora, o próximo passo já está sendo dado: a operação autônoma. A Inteligência Artificial (IA) tem sido aplicada para maximizar os recursos hídricos e maximizar a geração de energia. Sistemas de IA, por exemplo, conseguem integrar dados da operação, como balanço hídrico, por análise de todo o sensoriamento da usina.
A IA também já está sendo utilizada na interpretação de imagens coletadas por drones, que monitoram o entorno das usinas. "A ideia é eliminar uma decisão operativa que era anteriormente adotada por uma pessoa", explica Faller. O sistema, com base nas informações recebidas, pode tomar decisões em tempo real, como ligar ou desligar uma turbina.
Mudanças climáticas
Apesar de todas as inovações, o maior desafio técnico para a engenharia de PCHs ainda está por vir: as mudanças climáticas. Com eventos extremos, como as cheias históricas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, o passado já não é mais uma referência segura para projetar o futuro. "O passado não é o melhor meio de prever o futuro", alerta Faller.
O desafio, portanto, é projetar usinas que não apenas entreguem um bom resultado energético, mas que também tenham a resiliência necessária para suportar as condições climáticas extremas que o Brasil e o mundo têm vivenciado. É um desafio que exige uma nova abordagem, onde a segurança e a adaptabilidade dos projetos se tornam tão importantes quanto a eficiência e a viabilidade econômica, ensina Faller.








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