Dieter Hopf, presidente da Andritz no Brasil
Andritz introduz no Brasil soluções para UHE mitigar oscilações de fontes intermitentes
A integração de novas energias renováveis, como a eólica e solar, representa um novo desafio em relação à estabilidade da rede elétrica. O padrão intermitente das novas energias renováveis necessita de sistemas capazes de compensação de reativos e, dessa forma, garantir o controle de tensão e frequência.
Dada à proximidade do fim da vida útil de grandes hidrelétricas, uma nova onda de reformas de máquinas hidráulicas está sendo introduzida, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, para atender às necessidades do mercado. Trata-se de uma solução que pode responder rapidamente às variações de carga gerada pelas intermitentes e são usadas de 0 a 100% da faixa operacional, ao contrário das máquinas existentes.
No Brasil, a Andritz vem desenvolvendo dois projetos de adaptação de usinas a essas novas exigências impostas pela transição energética: UHE Sobradinho, de 1.050 MW, pertencente à Eletrobras, desde 1979 em operação; e UHE Jaguara, de 424 MW, da Engie Brasil, desde 1971 em operação. “Esses contratos podem representar um novo momento para o setor elétrico brasileiro”, afirma nesta entrevista o presidente da empresa no Brasil, Dieter Hopf.
Acompanhe:
A transição energética representa um novo momento para o mercado brasileiro?
Por vários anos, houve um crescimento expressivo e pouco planejado das fontes renováveis intermitentes, que agora chegaram ao limite, como pudemos constatar no apagão de agosto de 2023, afetando 25 estados da União. Diferentemente das hidrelétricas, as intermitentes fornecem energia de forma espontânea, conforme a condição meteorológica. Por exemplo, quando uma nuvem passa em cima de uma fazenda solar, há oscilações grandes de geração de energia. Até certo ponto, as hidrelétricas conseguiram compensar essa geração intermitente das eólicas e solares, mas o sistema precisa de novas soluções para manter a estabilidade, e as hidrelétricas têm condições de atender a essa demanda oscilatória das intermitentes.
As hidrelétricas não foram construídas para essa necessidade?
As máquinas hidráulicas não foram construídas décadas atrás para esse tipo de operação, que chamaria de ‘nervosa’, com a finalidade de compensar as intermitentes. Ocorre que a vida útil dessas plantas hidroelétricas está acabando, e isso gerou uma onda de projetos de reforma, na qual a Andritz participa com bastante sucesso. No Brasil, a empresa fechou dois contratos: com a UHE de Sobradinho e da UHE Jaguara, que estão recebendo melhorias devido a um plano de modernização.
Esses são os primeiros contratos no Brasil?
Esses dois contratos são os primeiros no Brasil de usinas que foram construídas nos anos 70 e 80, em que estamos trocando os equipamentos de geração, todo o equipamento de automação e auxiliares. Praticamente um retrofit completo. Esses contratos não contemplaram essa tecnologia, mas fazem parte dessas modernizações. A grande vantagem é que essas usinas pós-modernizadas poderão participar do mercado de energia compensando as oscilações das intermitentes. A Andritz também tem um grande contrato de modernização completa da Usina de Baygorria, no Uruguai, que, além do retrofit completo, também será potenciada e gerará mais energia para o sistema uruguaio.
Poderíamos desenvolver máquinas mais agressivas, mais modernas. Todavia, hoje o sistema no Brasil não remunera esse tipo de serviço. Então, os clientes não teriam muita vantagem em comprar esse tipo de máquinas. Essa modernização de usinas depende do pagamento dos serviços ancilares.
Quais são as características dessas novas máquinas? Como foram desenvolvidas?
Essa nova tecnologia foi desenvolvida pela Andritz com universidades da Áustria e da Suíça e outras instituições que trabalham no setor de geração hidrelétrica. A empresa hoje é a líder do mercado porque desenvolveu uma nova geração de máquinas e soluções que podem responder rapidamente àquelas variações da carga geradas pelas intermitentes e são usadas de 0 a 100% da faixa operacional, ao contrário das máquinas existentes. Seria importante que essas novas tecnologias sejam usadas nos projetos de reabilitação e reforma que ocorrem atualmente no país. Seria como trocar um Fusca por uma Ferrari.
Outro tema envolvendo as hidrelétricas é a repotenciação que, segundo a EPE , envolveria 49,9 GW passíveis desse processo. O que falta fazer?
Seria importante que a Aneel promova um leilão de energia de reserva que, a princípio, estaria programado para o primeiro semestre de 2024, porque daí as hidrelétricas poderiam injetar mais potência ao sistema. É importante que os órgãos reguladores reavaliem as tarifas das hidrelétricas considerando os serviços ancilares, além de promoverem leilões de potência, incentivando a motorização adicional de centrais com reservatórios ou usinas reversíveis, a fim de manter o sistema elétrico seguro e sem falhas. Além disso, nessas situações de distúrbio no sistema elétrico, é de se considerar que as termelétricas demoram horas para entrar no sistema e as hidrelétricas entram de uma forma instantânea.
Também se discute é a questão das UHEs reversíveis. Quais são os requisitos de uma hidrelétrica para viabilizar-se como usina reversível?
Normalmente, as reversíveis são usinas novas. Transformar uma usina existente em uma reversível não é tão fácil. Quedas de 300 a 700 metros seriam o ideal para uma usina dessas. No Brasil, existem alguns locais com usinas que poderiam ser transformadas em reversíveis de forma mais fácil. No Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, com quedas em que se poderia instalar uma casa de máquinas adicional e usar essas usinas como reversíveis. A exigência é uma topografia adequada para que se possa viabilizar a utilização de uma usina existente como reversível. É uma configuração com dois reservatórios de água em altitudes diferentes, que podem gerar energia à medida que a água desce de um para o outro (descarga), passando por uma turbina.
A Andritz dispõe de um mapeamento no Brasil de usinas que poderiam ser transformadas em reversíveis?
Existe um grupo de estudo da EPE mapeando essas usinas. Para não ter problema de licenciamento, seria melhor considerar usinas em circuito fechado. Essa usina tem de estar localizada próxima aos centros de consumo. Outra questão é que as usinas em operação, de maneira geral, contam com processos de licenciamento e isso teria de ser revisto. De outra parte, a Aneel também precisa estabelecer regras para esse processo. A Agência enxerga a usina hidrelétrica apenas como geradora de energia, não como bateria, como são as reversíveis. Teria de ocorrer um leilão de capacidade de armazenamento. Pelo menos, notamos que a Aneel constatou que se precisa de capacidade de armazenamento de energia. Ocorre que se pensa em baterias e não em hidrelétricas que têm capacidade de armazenar com durabilidade, ao contrário da bateria que, além disso, tem problemas de reciclagem, de vida útil e também de descarte no meio ambiente. Já a hidrelétrica que não conta com esses entraves pode durar até 100 anos de forma eficiente por meio de modernizações.
תגובות