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Investimentos privados podem viabilizar a construção de novas hidrelétricas, diz Gil Maranhão

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Apesar de um cenário nada animador para uma fonte que, na década de 1990, representou 87% da matriz elétrica brasileira e que se reduziu para 56%, segundo dados do Balanço Energético Nacional (BEN), do ano passado, a indústria de hidrelétricas ainda não jogou a toalha. Seus principais players vêm dialogando em busca de um caminho capaz de propiciar uma espécie de renascimento de uma fonte em que o Brasil responde pela segunda maior capacidade instalada do mundo.


Um sinal concreto disso foi o recente encontro promovido pela IHA (International Hydropower Association), no Rio de Janeiro, que reuniu grandes empresas do setor hidrelétrico nacional e teve como objetivo discutir iniciativas que devem potencializar o desenvolvimento hidrelétrico no país. No mesmo dia foi encaminhada carta ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, com destaque para os atributos da fonte.

Gil Maranhão Neto, diretor de Estratégia e Comunicação da Engie Brasil, com larga experiência na construção de hidrelétricas, um dos diretores do Brasil no IHA, admite que o caminho dessas usinas de volta ao planejamento do setor seja longo, demorado e, até mesmo, incerto. “Para que as UHEs voltem a ser construídas no Brasil, primeiro é necessário contar com projetos, o que, no momento, não existem”, assinala. “As hidrelétricas precisam ser desenvolvidas previamente e isso leva de três a quatro anos e algumas dezenas de milhões de investimentos até chegar ao projeto básico, obter a Licença Prévia e se cadastrar aos leilões de geração”, acrescenta. “O estoque de projetos da EPE acabou e ninguém assumiu esse papel. Nessa linha, como incentivar operadores, construtores a investir em novos projetos”.


Outra questão, observa ele, trata-se dos atributos das UHEs que hoje são remuneradas somente pelo MWh. “Dificilmente você verá hidrelétricas construídas com contratos bilaterais no mercado livre, como se vê nas fontes solar e eólica. A hidrelétrica precisa da venda de energia por 30 anos, no modelo clássico de leilão no ambiente regulado. E isso fica difícil quando não são reconhecidos todos os serviços que essas usinas prestam para o sistema interligado e para a operação do sistema, inclusive os serviços ancilares, que permitem que outras fontes sejam viáveis . Nada disso é remunerado, além de as UHEs não serem competitivas com outras fontes”, afirma. “A questão indígena é outro entrave clássico, dado ao fato de que hoje 13% do território nacional pertence a 900 mil índios. Tudo isso não estimula o investidor”.


Um dos itens da carta da IHA ao ministro Silveira trata da modernização da frota. Hoje boa parte das 54 hidrelétricas em operação, segundo Maranhão, tem em média entre 50 e 60 anos de operação, com algumas já modernizados apenas para cumprir os seus contratos de longo prazo. Muitas dessas usinas, acrescenta, têm condições de repotenciação, mas dependem de incentivos.

“Apenas com o reconhecimento desses atributos seria possível gerar um ganho de energia no sistema de 520 MW médios, segundo estudo da EPE, de 2019, com construção civil mínima, licenciamento ambiental emitido, sem a necessidade de maiores investimentos”, destaca Maranhão. Outro ponto mencionado na carta da IHA ao ministro de Minas e Energia (MME) refere-se ao desenvolvimento de um plano para a construção de hidrelétricas médias de 100 MW a 150 MW, produzido pelo Fórum de Desenvolvimento de Hidrelétricas Médias que busca soluções para as questões socioambientais, regulatórias, financeiras e de comunicação do segmento.


Para Maranhão, que participou ativamente do desenvolvimento e implantação de inúmeras usinas hidrelétricas, incluindo Serra da Mesa (1.275 MW), Itá (1.450 MW), Machadinho (1.140 MW), Cana Brava (450 MW), São Salvador (243 MW), Estreito (1.087 MW) e Jirau (3.750 MW), as grandes UHEs enfrentam uma resistência forte, sobretudo devido a questões ambientais.

Além disso, os grandes rios já foram explorados, os grandes projetos estão na Amazônia, havendo ainda uma antipatia pela UHE Belo Monte, a última UHE construída no Brasil. Nessa linha, os grandes geradores desenvolveram um raciocínio que contempla empresas privadas que podem construir sozinhas sem necessidade de parcerias. Seria um grupo de usinas acima de 100 MW a 150 MW que não estão localizadas na Amazônia, com impactos ambientais inexpressivos , sem implicar na remoção de populações. “O levantamento do Fórum chegou a 100 projetos, somando cerca de 130 GW”, informa o executivo da Engie.

O x da questão? O MM precisa remunerar os serviços ancilares. “Ninguém irá investir quatro anos de trabalho no desenvolvimento de projetos ao custo de R$ 40 milhões cada um sem a garantia de sua viabilidade”, explica Maranhão que se lembra do efeito multiplicador de emprego da UHE Jirau, de 3.750 MW, última hidrelétrica em que participou, construída no Rio Madeira, no período de 2009-2013.


“No pico da obra havia 26 mil pessoas trabalhando. Eram 26 mil pessoas almoçando em nosso refeitório. O presidente Lula esteve lá duas vezes e ficou maravilhado”.


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