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Geração Distribuída, tarifas elevadas e os desafios energéticos do Brasil

  • Foto do escritor: Milton Wells
    Milton Wells
  • 31 de out.
  • 3 min de leitura

Por Julien Dias (*)

Julien Dias
Julien Dias

Nos últimos anos, o Brasil tem assistido a um crescimento expressivo da geração distribuída (GD), especialmente de sistemas fotovoltaicos em residências e pequenos negócios. Esse avanço vem sendo, injustamente, associado a apagões e episódios de curtailment — quando a geração solar e eólica é limitada. Para compreender o fenômeno, é preciso examinar as causas estruturais que impulsionaram essa expansão.


O principal fator é o alto custo da energia elétrica ao consumidor. Embora o país conte com uma matriz majoritariamente renovável e de baixo custo de geração, o preço final é um dos mais altos do mundo. A diferença decorre da soma de encargos setoriais, tributos, tarifas de uso das redes e subsídios cruzados. Assim, famílias e empresas convivem com pressão tarifária constante, o que estimula a busca por alternativas como a geração própria.

Paralelamente, o sistema elétrico enfrenta gargalos de infraestrutura. Em diversas regiões, a rede de transmissão e distribuição não acompanhou o crescimento da geração — centralizada e distribuída — resultando em restrições de escoamento.


Esses curtailments não decorrem da GD em si, mas da incapacidade estrutural da rede, historicamente projetada para fluxos unidirecionais. A modernização exige planejamento, investimento e regulação adequada, e não a penalização do consumidor.

Ao observarmos experiências internacionais, destacam-se dois modelos regulatórios: o Net Metering (NM) e o Behind the Meter (BTM). O Brasil adota majoritariamente o primeiro, em que a energia excedente é injetada na rede e convertida em créditos, funcionando como uma “bateria virtual”. O modelo simplifica a operação, mas desestimula o armazenamento local e a gestão ativa da carga. Já o BTM, predominante em países como Austrália, Japão e Alemanha, prioriza o consumo local e o armazenamento do excedente, com venda apenas quando os preços são favoráveis. Isso cria sinais econômicos de eficiência e reduz picos de demanda.


Minha experiência na Austrália ilustra bem essa lógica: residências ajustavam automaticamente o consumo conforme o preço horário da energia, enquanto baterias armazenavam eletricidade durante o dia para uso ou venda noturna. Veículos elétricos atuavam como extensões de armazenamento (Vehicle-to-Grid), integrando consumidores e rede em um sistema mais equilibrado e inteligente.

O contraste com o Brasil é nítido. Aqui, o Net Metering elimina o incentivo ao armazenamento próprio, entregando automaticamente o excedente à rede. A ausência de controle de demanda reforça a volatilidade que as distribuidoras precisam administrar, sem o apoio de mecanismos locais de compensação.


Surge então a pergunta: devemos penalizar a GD? A resposta é não. Penalizá-la seria desestimular a autonomia energética, reduzir o protagonismo do consumidor e retardar a modernização da matriz. O caminho mais racional é evoluir o modelo regulatório, incentivando tecnologias complementares — especialmente o armazenamento — aproximando o país da lógica Behind the Meter.


A transição energética é inevitável, e o protagonismo do consumidor é uma tendência global. O Brasil precisa alinhar seu planejamento, modernizar as redes e revisar a estrutura tarifária. O debate deve se concentrar menos em culpar pequenos geradores e mais em enfrentar a falta de planejamento, a sobrecarga de encargos e a lentidão das reformas setoriais.


Em síntese, a geração distribuída não é a vilã: é resposta direta às tarifas elevadas e à busca legítima por autonomia. Taxá-la seria um retrocesso tecnológico e ambiental. O futuro está em integrar a GD de forma planejada, com regulação moderna e incentivos ao armazenamento — transformando o desafio em oportunidade de eficiência e sustentabilidade.

 

 

Diretor de Economizenergia

 

 
 
 

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