CEO da Voith Hydro defende marco regulatório para impulsionar usinas reversíveis no Brasil
- Milton Wells
- 12 de mai.
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de mai.

Hans Poll
Em entrevista exclusiva à Hydro Brasil, Hans Poll, CEO da Voith Hydro América Latina, afirma que a empresa encara a construção de novas usinas reversíveis no Brasil como inevitável. Responsável pela primeira usina reversível em escala de produção no Brasil, a Usina de Pedreira da EMAE em 1939, a empresa está prospectando alternativas e apresentando estudos de viabilidade a clientes, com a expectativa de que o governo inclua essas usinas nos próximos leilões de capacidade ou de reserva de armazenamento.
Poll é enfático ao comparar as usinas reversíveis com outras tecnologias de armazenamento, como baterias. Ele argumenta que, em termos operacionais e ambientais, as "baterias a água" são imbatíveis, especialmente considerando a vida útil superior a 100 anos e a ausência de rejeitos
Hans Poll cita a existência de algumas usinas reversíveis no Brasil, como as da EMAE (Pedreira, Traição e Edgard de Souza) e a de Vigário (Light), mas ressalta que atualmente operam como elevatórias, sem função direta e específica para a estabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN).
O papel das UHRs
Na visão da Voith, as usinas reversíveis desempenham um papel ideal e multifuncional no suporte à estabilidade do SIN, frente à variabilidade da geração eólica e solar. Assim como as hidrelétricas convencionais, podem ser acionadas em minutos e ter sua carga variada em segundos, uma capacidade inigualável por usinas térmicas ou nucleares. Essa agilidade permite compensar rapidamente perdas de geração renovável ao entardecer e adicionar potência em horários de pico. Além disso, possuem capacidade de black start , fornecem potência reativa e reserva inercial.
Para impulsionar o desenvolvimento das usinas reversíveis no Brasil, Hans Poll aponta o marco regulatório como o primeiro passo. A regulamentação deve dar suporte para compensar os investimentos por todas as funcionalidades oferecidas pelas UHRs, como armazenamento de energia, flexibilidade operacional, reserva girante, reserva de inércia, modulação de frequência e fase, black start e serviços ancilares.
Além disso, defende Poll, é fundamental regular as tarifas para que o bombeamento de água, que consome energia, seja mais barato que a energia vendida na geração. Ele menciona o curtailment como um exemplo de excesso de produção de fontes intermitentes que poderia ser utilizado para o bombeamento nas usinas reversíveis. A expectativa é que o governo publique em breve um arcabouço regulatório que permita uma compensação justa às UHRs e UHEs que prestam esses serviços essenciais ao SIN.
Remuneração
O CEO da Voith Hydro é claro: o modelo de remuneração atual não contempla adequadamente o valor que as usinas reversíveis entregam ao sistema. É preciso avançar em mercados de capacidade, serviços ancilares e remuneração por flexibilidade para aumentar a atratividade dos projetos. Poll demonstra confiança de que o governo está estudando o assunto e publicará uma regulamentação que permita uma compensação justa, reconhecendo o papel fundamental das máquinas hidráulicas para a estabilidade do SIN em um sistema com crescente participação de fontes intermitentes.
Tarifas diferenciadas
Para o "recomeço" e a expansão das usinas reversíveis no Brasil, Hans Poll considera essenciais a regulamentação para a compensação e uma política de tarifas diferenciadas para bombeamento e geração. Após esses passos iniciais, a realização de leilões específicos para armazenamento de energia ou a inclusão das USRs nos leilões de capacidade seriam cruciais para remunerar tanto UHEs quanto UHRs pelos serviços regulamentados.
Poll questiona a lógica de leiloar capacidade de usinas térmicas em um país com abundância de recursos hídricos, eólicos e solares, especialmente em um contexto de transição energética. Ele ressalta que a falta de reservatórios de acumulação, justificada por argumentos ambientais que não consideraram o benefício da regularização do fornecimento de água, contribuiu para a necessidade de acionar fontes de geração que queimam combustível. A lista de projetos de usinas reversíveis em que a Voith está atualmente envolvida globalmente é extensa e inclui referências como Snowy 2.0 na Austrália, La Muela na Espanha, Venda Nova e Frades II em Portugal, diversas usinas na China, Muddy Run e Raccon Mountain nos EUA, Malta e Limberg na Áustria, e Ingula na África do Sul.
Para Poll, os cenários das usinas reversíveis no Brasil são promissores promissora. “Ao transformar a água em uma "bateria" natural e eficiente, essa tecnologia se apresenta como um pilar fundamental para a segurança e a estabilidade do sistema elétrico brasileiro, pavimentando o caminho para uma matriz energética mais renovável e resiliente”, afirma.
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