A virtude da coragem
- Milton Wells
- 5 de set.
- 2 min de leitura
Por Ricardo Pigatto

O Brasil, com sua vasta extensão territorial e recursos naturais, sempre se orgulhou de seu potencial energético. No entanto, uma análise mais profunda revela uma dependência crescente de soluções externas, especialmente da China, para a sua matriz elétrica. Uma das consequências desse cenário é o aumento alarmante de subsídios, que saem do bolso do consumidor brasileiro e se destinam a financiar projetos fotovoltaicos.
A estratégia chinesa, notavelmente perspicaz, parece seguir um padrão de 'gerar o problema e vender a solução'. O país asiático domina a produção mundial de painéis solares e, também, de baterias. O fato de que a geração de energia solar é intermitente, ou seja, só ocorre durante o dia, demanda soluções de armazenamento para a noite. E quem vende as baterias para resolver a intermitência? A China.
A política energética brasileira, por meio de normativas como a Resolução Normativa 482 de 2012, a Resolução 687/2015 e a Lei 14.300/2022, incentivou a expansão da energia solar sem uma análise de custo x benefício. A narrativa, na época, era a de que essa modalidade de geração reduziria em até 90% a conta de luz dos consumidores. Essa promessa, no entanto, veio com um preço: um sistema de compensação de créditos de energia que permite aos produtores de energia solar entregar a energia gerada a um preço mínimo (das 11h às 15h), sem pagar pelo uso da rede de distribuição, e receber energia a um preço máximo (p.ex. das 17às 21h). O resultado, hoje, é um sistema elétrico sobrecarregado, impossível de gerenciar, com subsídios anuais que já ultrapassam os R$ 10 bilhões, isso sem levar em consideração os efeitos dos cortes de geração que vem ocorrendo e o desperdício da energia vertida nas hidrelétricas.
Enquanto as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), com tecnologia e mão de obra 100% nacionais, geram emprego e renda no país, a energia solar fotovoltaica, com 90% de seus insumos importados da China, cresceu exponencialmente, com 60 GW já instalados no Brasil. A ironia é que a solar, que agravou o problema da intermitência, gerando problemas sistêmicos que exigem soluções caras, enquanto as PCHs, que contribuem para a estabilidade do sistema, são frequentemente alvo de críticas. Toda a política pública de PCHs, com geração de empregos e renda no Brasil, se resume a 4,9 GW, nos próximos 8 anos, montante que a solar fotovoltaica atinge em menos de um ano.
A China, por sua vez, exigia, até junho de 2025, que seus geradores solares tivessem sistemas de armazenamento (baterias) acoplados aos painéis, o que evidencia o problema da intermitência.
A questão central não é se a energia solar é uma alternativa viável, mas sim como a sua expansão foi conduzida no Brasil. A falta de um planejamento estratégico, que deveria ter exigido o uso de baterias custeada pelo gerador solar desde o início, colocou o consumidor brasileiro em uma posição desfavorável. O desafio agora é encontrar a coragem necessária para reverter essa situação caótica, sem onerar ainda mais o bolso do cidadão.
O Brasil precisa reconhecer o erro e buscar uma solução que beneficie a sua população. A virtude da coragem é, no fim das contas, a de admitir um erro para poder corrigi-lo.
(*) Empresário








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